CARTA MCC BRASIL – JUN 2012 (154ª.)
“Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!
Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20).
Meus amados irmãos e irmãs, “templos de Deus e habitação do Espírito de Deus” (cf. 1Cor 3,16):
A
proposta desta Carta mensal é a de proporcionar alguns pontos para
nossa reflexão a partir do mistério da Santíssima Trindade. Muito se
poderia escrever sobre este mistério, o mais profundo e desafiador para
nossa natureza humana e para a nossa fé. Detenhamo-nos sobre alguns
deles apenas.
1. A Santíssima Trindade.
Celebrada a grande festa do Espírito Santo, numa perene manifestação do
Espírito de Deus, somos convidados a comemorar no próximo dia 03/06,
uma como que síntese de todas as celebrações, do Natal até agora: o
mistério da Santíssima Trindade. O Domingo da Santíssima está destinado a
repercutir em todos os outros domingos e dias do ano, precisamente
porque nas Três Pessoas Divinas vive-se um dos mistérios centrais de
nossa fé. A esse respeito afirma o Papa Bento XVI na sua preciosa
Exortação Apostólica ‘Verbum Domini’(VD): “No Filho, «Logos feito carne» (cf. Jo 1, 14), que veio para cumprir a vontade d’Aquele que O enviou (cf. Jo
4, 34), Deus, fonte da revelação, manifesta-Se como Pai e leva à
perfeição a educação divina do homem, já anteriormente animada pela
palavra dos profetas e pelas maravilhas realizadas na criação e na
história do seu povo e de todos os homens. O apogeu da revelação de Deus
Pai é oferecido pelo Filho com o dom do Paráclito (cf. Jo 14, 16), Espírito do Pai e do Filho, que nos «guiará para a verdade total» (Jo 16, 13). Deste modo, todas as promessas de Deus se tornam «sim» em Jesus Cristo (cf. 2 Cor 1, 20). Abre-se assim, para o homem, a possibilidade de percorrer o caminho que o conduz ao Pai (cf. Jo 14, 6), para que no fim «Deus seja tudo em todos» (1 Cor 15, 28)
(VD 20). Aliás, ao enviar seus discípulos para a missão de anunciar o
Reino a todo o mundo e fazer discípulos, Jesus manda que estes sejam “batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Esta nossa carta, portanto, tem como foco, alguma reflexões sobre a Trindade Santíssima.
a) Viver nas Três Pessoas divinas e abrir sua intimidade deixando-se invadir por Elas. Quantas
vezes e em quantas oportunidades temos ouvido e lido, quem sabe até,
entre a incredulidade e a dúvida, que somos habitação do Deus Trindade?
Pois não é da boca do próprio Jesus e por meio de São João que ouvimos: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”? [1]Aproveito-me
desta oportunidade para apresentar aos caros leitores um exemplo
marcante dessa vivência de intimidade trinitária. Trata-se da Beata
Elizabete da Trindade, em cujos escritos encontrei um forte alimento
para minha própria vida. Até como um testemunho pessoal – se me permitem
- muito mais aprendi sobre a Santíssima Trindade naqueles escritos do
que em todos os meus cursos de teologia. Pois nos livros aprendi a
teoria e, ainda que ainda tão distante daquele caminho, em Elizabete da
Trindade aprendi a prática e a experiência da intimidade com a
Santíssima Trindade.
No
dia 2 de janeiro de 1901, aos 21 anos, Elizabete ingressou no Carmelo
Descalço de Dijon, cidade onde vivia com sua família. Recebeu o hábito
no dia 8 de dezembro de 1902 e no dia 11 de janeiro de 1903 emitiu seus
votos religiosos na Ordem do Carmelo, que já amava com toda sua alma.
Com sua vida e doutrina, breve mas sólida, exerce grande influência na
espiritualidade atual, especialmente por sua experiência trinitária. Em
sua obra distinguem-se: Elevações, Retiros, Notas Espirituais e Cartas.
Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 25 de novembro de 1984,
festa de Cristo Rei. Sua festa é celebrada no dia 8 de novembro. Cito algumas afirmações da Beata Elizabete que me parecem oportunas para nossa reflexão: “Eu sou “Elisabeth da Trindade”, ou seja, a Elisabeth que desaparece, que se perde nos Três e se deixa invadir por Eles”. Ainda: “Não existem mais distâncias, porque já é o Uno como no céu… o céu que um dia chegará quando então veremos a Deus na sua luz”. Elisabete se rejubila e se “perde” no mistério da Trindade: “Deus
em mim, e eu nele” deve ser o nosso lema. Que jubiloso mistério a
presença de Deus dentro de nós, neste íntimo santuário das nossas almas
onde sempre podemos encontrá-lo, também quando não percebemos mais
sensivelmente a sua presença! Que importa o sentimento? Talvez ele
esteja também mais perto, quando menos o sentimos”[2].
b) A Santíssima Trindade e a experiência mística.
Ou, em outras palavras, uma experiência de espiritualidade nascida e
enraizada na Trindade Santíssima. Imagino que alguém poderia, até,
pensar que esta experiência seria possível somente a alguns
privilegiados, santos e santas, recolhidos num convento ou mosteiro,
longe do ruído do mundo aqui fora. Engano, pois posso testemunhar o
contrário e partilhar com todos os meus caros leitores. Durante este meu
já longo ministério sacerdotal, entre outras inúmeras graças que por
Deus me foram concedidas, tive a de poder acompanhar alguns leigos e
leigas, cuja vida foi uma continua experiência mística, experiência de
um profundo envolvimento com o mistério de habitação da Santíssima
Trindade. Sobretudo de uma delas: convertida de certa indiferença
religiosa como tantos cristãos, hoje; mãe de família, dedicada e ocupada
com todos os problemas de sua casa e, não
raro, oprimida por eles, soube viver intensamente essa experiência,
conciliando e entrelaçando em todos os momentos de sua vida, a
contemplação com a ação. Uma preciosa fonte para seu amadurecimento na
espiritualidade trinitária foi, precisamente, a Beata Elizabete da
Trindade e seus escritos, fonte nas quais hauria tanta inspiração e
tanta força para andar pelos caminhos de Jesus. Num momento de intensa
experiência do Deus Trino, eis como Elizabete se refere ao mistério da
habitação trinitária: “No seio
dos Três, banhados na luz,/sob as claridades da Face de Deus/nós
penetramos o segredo do Mistério/ que cada dia parece mais radiosos!/Ser
infinito, profundidade insondável,/nós comungamos da tua Divindade./Ó
Trindade, ó Deus, nosso Imutável,/Nós vemos a ti mesmo em tua
claridade”.[3]
c) Em busca de uma espiritualidade trinitária.
Como conclusão desta nossa breve reflexão sobre o mistério da
Santíssima Trindade – e infinitamente mais poderíamos escrever e falar -
proponho a todos os caros leitores a busca e a experiência de uma
espiritualidade trinitária que leve à comunhão entre a ação e a
contemplação. De fato, não é possível uma espiritualidade que se
restrinja apenas a momentos de oração como também não se pode entender
uma espiritualidade que se contente com ativismo, aliás, ativismo que
parece, até, uma característica de movimentos ou outras comunidades
eclesiais. Talvez possa ajudar-nos na caminhada trazer para a nossa vida
uma afirmação do atual Arcebispo italiano e exímio teólogo Bruno Forte:
o Pai é o Silêncio (criar espaços de silêncio para ouvir); o Filho é a Palavra (anunciar Jesus e seu Evangelho) e o Espírito Santo é o Encontro
(encontrar-se com a Santíssima Trindade que habita em cada filho e
filha de Deus e com o mundo a ser fermentado com os valores e critérios
do Evangelho).
Que Maria, a ouvinte atenta do Pai através do Anjo da Anunciação; a imaculada Mãe do Filho, Palavra
do Pai e a fiel habitação do Espírito Santo (cf.Lc 1,26-18) acompanhe
os passos de todos nós na busca incansável de uma espiritualidade
genuinamente trinitária!
Um abraço fraterno e carinhoso do amigo e irmão de sempre e para sempre,
Pe.José Gilberto Beraldo
Segundo Assessor Eclesiástico Nacional - MCC do Brasil
E-mail: jberaldo79@gmail.com